26 de set. de 2010

Um breve relato - Psicopedagoga em Campo

EDUCADORA BRASILEIRA EM CAMPO

Maria Carolina Veiga Ferigolli
Cristã - Brasileira – 29 anos
Psicopedagoga e Professora


Trajetória Pessoal – família, educação e mudança de história
Sou de uma família muito simples de São Paulo, pai pedreiro e mãe cuidadora de lares alheios. Minha infância e adolescência foram construídas na escola pública brasileira, que se apresenta fracassada e decadente, normalmente, reprodutora de atores sociais desprovidos de instrumentos letrados para mudar sua realidade.
Com 13 anos eu já contestava e propunha alternativas para repensar o então contexto escolar de aulas sem sentido e de conteúdos pouco explorados. Alguma das iniciativas foi conscientizar colegas, participar de reuniões com os professores e ampliar as propostas feitas pelos professores, no dia a dia da sala de aula, com o objetivo de mostrar uma outra perspectiva a partir de algo inicialmente sem sentido, provando de forma prática como a escola poderia ser significativa e interessante.
Sai da escola pública com o forte desejo de fazer universidade. A batalha para passar no vestibular foi árdua e me permitiu estudar num cursinho comunitário e trabalhar numa fábrica para custear o estudo. Muito aprendi sobre humanidade e persistência nesse tempo, por meio das tantas nordestinas sem esperanças que conheci nas bancadas de trabalho.
 Finalmente, ingressei na academia, onde cursei Letras para poder, por meio do conhecimento em Língua e Literatura, plantar sementes de conhecimento capazes de mudar realidades, histórias e contextos. A vida acadêmica foi muito difícil e para conseguir me formar, exigiu um tanto de criatividade, astucia e um estilo de vida de luta e resistência. Fazer horas de caminhadas noturnas para driblar a falta de dinheiro para o transporte, a dieta “vegetariana” para dar conta dos poucos recursos, as leituras feitas pós aulas pela falta de copias dos materiais, a suposta iniciação cientifica para garantir uma bolsa de algo como R$ 162,00... Tantas oportunidades de aprender a lidar com as adversidades me fizeram conhecer uma possibilidade única de mudar a realidade, apesar de todos os percausos,  a Universidade aconteceu!
Minha trajetória educacional finalmente tomou outras proporções e um precioso tempo na especialização em Psicopedagogia. O que me abriu possibilidades reais de trabalho em contextos de pobreza e escassez, onde comecei a atuar intervindo na aprendizagem de educadores sociais em diferentes contextos. Minhas intervenções pareciam um pouco diferentes a primeira vista, porque misturava literatura, artes, conflitos problematizadores e desconstrução de conhecimentos, construção de identidade e espaços de estudo e aprendizagem. Tudo com a finalidade de potencializar e mobilizar o agente de transformação, que existia dentro das pessoas com quem tive a oportunidade de partilhar e construir conhecimentos, por meio de competências leitoras e habilidades de escrita, sempre considerando o contexto social ao qual estavam inseridos.
Um dos trabalhos realizados foi na ONG Operação Resgate - na comunidade do bairro conhecido como Mutirão, na cidade de Patos, sertão da Paraíba, Brasil - no ano de 2009. A intervenção consistiu em formar professores que seriam protagonistas na transformação social, por meio de uma educação bem fundamentada, fomentando a possibilidade de transformação da realidade de uma maioria não alfabetizada. O resultado do trabalho, em 6 meses, foi um grupo de professoras detentoras de um conhecimento capaz de transformar, algumas preciosas ferramentas para intervir na aprendizagem das crianças e adolescentes e 75% dos alunos no processo de alfabetização letrada, objetivo primário do trabalho, uma vez que as crianças e adolescentes do projeto não sabiam ler e escrever e as professoras não sabiam como intervir em tal realidade.
Algumas vivências de trabalhos já realizadas foram feitas em contextos adversos como a periferia do Sertão Paraibano; escolas indígenas do povo terena do Mato Grosso do Sul; casa abrigos, escolas públicas e atendimentos a alunos com deficiência e necessidades educativas especiais de São Paulo; e aquele que é o projeto que desejo continuar atuando, que é a implantação e serviço numa comunidade quéchua, que habita os assentamentos humanos de Leôncio Prado e Nova Generacion, na região serrana de Huánuco, Peru, America Latina.  

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