26 de set. de 2010

Proposta de trabalho 2011

Para que esse projeto se concretize ainda será necessário parceiros que patrocinem tal trabalho... a disposição para quaisquer informações: carol.ferigolli@gmail.com



Objetivo do projeto Acordando Palavras -PERU

Trabalhar com a equipe do Projeto Kushis Winaykan, com habilidades profissionais relacionadas à Psicopedagoga. Ser um elo entre a equipe de trabalho e outras instituições, com a finalidade de mobilizar trabalhadores e recursos para o Projeto Kushis e causas como essa.


A intervenção psicopedagógica pretende trabalhar com implantação de um projeto sócio- educativo junto ao Projeto já existente Kushis Winaykan, oferecendo subsídios para que os educadores locais possam construir o conhecimento coletivamente, em espaços de aprendizagens semanais, para que as crianças possam se desenvolver sadiamente e saírem da condição de pobreza, por meio de vivências educacionais significativas, relacionadas à leitura e aquisição da escrita.

 Objetivos Secundários

• Autonomia do educador, transformando o conhecimento para que ele possa realizar as mudanças necessárias para contribuir com a aprendizagem das crianças atendidas pelo projeto,

• Promover o conhecimento entre educadores para que as crianças possam reconhecer sua identidade, por meio do domínio da leitura e escrita, como instrumento de compartilhar cultural e de construção histórica.

• Por meio de educação de qualidade, formar uma liderança local engajada e com recursos para dar continuidade ao trabalho em longo prazo.

Estratégias


1. Oficinas de formação

i. Criar com a equipe Kushis uma agenda de encontros, no formato de oficinas, com as principais temáticas necessárias para trabalhar os temas e assuntos em que apresentam mais dificuldade no trabalho com as crianças.

ii. Encontros de formação de construção coletiva do conhecimento, que além de instrumentalizar os educadores possam ser parte de um registro que perpetue e documente a construção histórica dos conhecimentos construídos nesse processo.

2. Banco de conhecimento

iii. Criar um banco temático de textos que sejam referência e apresentem relevância para a formação dos educadores, a fim de viabilizar o desenvolvimento do ensino-aprendizagem dos educadores, no que diz respeito à expectativa de aprendizagem dos alunos.

3. Materiais didáticos e recursos pedagógicos

iv. Elaborar materiais didáticos que dialoguem com as demandas locais, tendo em vista as principais referências de trabalho que existem atualmente, como sequências didáticas e projetos pedagógicos.

4. Observação participativa e registro comunitário

v. Ajudar os protagonistas do Projeto a fazer um mapeamento da comunidade e produzir registros textuais e fotográficos que os ajudem nesse processo de documentação para a captação de recursos.

vi. Auxiliar os educadores nas oficinas com as crianças da comunidade.

5. Intercâmbio Institucional

vii. Trabalhar e participar, em alguns momentos, de atividades e trabalhos em alguns projetos semelhantes com a finalidade de poder promover a interação entre protagonistas sociais que atuam em contextos sociais próximos em outras comunidades peruanas.

Diagnóstico da Problemática

DIAGNÓSTICO DA PROBLEMÁTICA


O contexto social que meu projeto pretende atuar apresenta um potencial humano de transformação social bastante latente, mesmo considerando a escassez de recursos e condições mínimas de sobrevivência. Os assentamentos humanos Leôncio Prado e Futura Generacion são comunidades quéchuas, que vivem em situação abaixo da linha de pobreza extrema, de acordo com os indicadores da ONU, sendo Huánuco o segundo distrito mais pobre do Peru, com um alto índice de desnutrição crônica, falta de saneamento básico e serviços efetivos de saúde, além do analfabetismo e péssimas condições de habitação.

É impressionante perceber que a população dos assentamentos vive como a margem da sociedade, num ciclo de pobreza que só pode ser quebrado por meio de uma educação de qualidade. Para que a comunidade, por meio do conhecimento e domínio da leitura e escrita, possa resignificar a sua identidade cultural e passar a desempenhar a possibilidade de protagonismo histórico e profundas transformações comunitárias, que devem culminar numa população mais consciente de seu papel como agentes de mudança social.

Numa comunidade empoeirada, montanhosa, onde falta serviços mínimos de saneamento como água e esgoto, onde não há coleta de lixo, não tem alimentos para todos e serviços de saúde; 28% dos meninos e meninas menores de 5 anos sofrem de desnutrição crônica na zona urbana, sendo que esse índice cresce para 46% na região rural; as condições de habitação são de 4 pessoas por metro quadrado; 73,3% das crianças terminam a educação primária entre os 12-14 anos de idade.

Creio que uma possibilidade real de quebrar esse ciclo de pobreza, está na possibilidade de transformação social capaz de ser vivida por meio do acesso a educação..

Kushis Winaykan é um projeto social, iniciativa de um grupo de peruanos de Huánuco, com o objetivo de atender crianças e adolescentes em situação de pobreza extrema nos assentamentos humanos Leôncio Prado e Futura Generacion em Huánuco, Peru.

O Projeto Kushis Winaykan

Aspectos desfavoráveis:

• Não tem sede e espaço físico para o trabalho. As atividades são realizadas nas ruas ou no quintal de uma senhora da comunidade.

• Não tem materiais escolares e artísticos suficientes para o trabalho.

• Não tem recursos financeiros suficientes para a consolidação de um trabalho de excelência.

Aspectos mais que favoráveis de transformação:

• Conta com uma educadora que coordena o trabalho com seu grupo de 12 voluntários, de 11 a 60 anos, que trabalham com as crianças e adolescentes, sendo que esses não possuem formação especifica na área de educação.

• Tem potencial humano de cerca de 500 crianças.

• Acaba de ganhar da comunidade Futura Generación um terreno no 4º piso da comunidade para a construção da sede, porém, não possui os recursos para tal.

O trabalho será em parceria com a equipe do Projeto Kushis Winaykan, fazendo uso de habilidades profissionais relacionadas à Psicopedagoga. Ser como um elo entre a equipe de trabalho e outras instituições, com a finalidade de mobilizar trabalhadores e recursos para o Projeto Kushis e causas como essa.

A intervenção psicopedagógica pretende trabalhar com implantação de um projeto sócio-educativo junto ao Projeto já existente Kushis Winaykan, oferecendo subsídios para que os educadores locais possam construir o conhecimento coletivamente, em espaços de aprendizagens semanais, para que as crianças possam se desenvolver sadiamente e saírem da condição de pobreza, por meio de vivências educacionais significativas, relacionadas à leitura e aquisição da escrita.

Tendo em vista que a Psicopedagogia é uma área do conhecimento que tem como objeto de estudo a aprendizagem humana, sobretudo as dificuldades de aprendizagem, mesmo que oriundas de uma dificuldade causada por condições adversas como fatores sociais recorrentes de um contexto de miséria. A Psicopedagogia tem um percurso, em termos históricos ainda recentes, e já foi uma concepção social capaz de promover transformaçõessta em muitos contextos de países como a França e Espanha. Já na América Latina, os países que apresentam algum trabalho nessa perspectiva são Brasil e Argentina, o que já tem equacionado transformações significativas na aprendizagem de indivíduos que tem acesso a psicopedagogia clinica.

A considerada Psicopedagogia Institucional ainda não está plenamente consolidada por meio de intervenções documentadas para dar conta da contribuição desse conhecimento nos contextos institucionais, que clinicamente tem redimensionado a vida de muitas crianças, adolescentes e adultos. A intervenção psicopedagógica institucional ainda necessita de uma construção histórica como uma área do conhecimento que pode contribuir efetivamente para a transformação social do contexto social dos assentamentos humanos. Mesmo que já exista essa atuação efetiva, principalmente, aqui no Brasil, no Peru é um trabalho praticamente inexistente, sendo portanto, meu projeto uma possibilidade pioneira de contribuir com essa área do conhecimento tão atual e necessária, uma vez que tem como foco intervir na aprendizagem humana, e se construirmos essa aprendizagem na perspectiva do protagonismo social em busca de transformações, é possível que a comunidade quéchua dos assentamentos humanos de Huánuco possam reescrever sua história em busca de melhores condições de vida, por meio de suas crianças que detentoras da leitura e escrita, possam ser protagonistas de um processo histórico de transformações.

O problema que esse projeto pretende resolver esta na intervenção psicopedagógica que pode viabilizar uma transformação comunitária por meio do processo significativo da aquisição da leitura e escrita, como ferramenta de transformação social.

Um breve relato - Psicopedagoga em Campo

EDUCADORA BRASILEIRA EM CAMPO

Maria Carolina Veiga Ferigolli
Cristã - Brasileira – 29 anos
Psicopedagoga e Professora


Trajetória Pessoal – família, educação e mudança de história
Sou de uma família muito simples de São Paulo, pai pedreiro e mãe cuidadora de lares alheios. Minha infância e adolescência foram construídas na escola pública brasileira, que se apresenta fracassada e decadente, normalmente, reprodutora de atores sociais desprovidos de instrumentos letrados para mudar sua realidade.
Com 13 anos eu já contestava e propunha alternativas para repensar o então contexto escolar de aulas sem sentido e de conteúdos pouco explorados. Alguma das iniciativas foi conscientizar colegas, participar de reuniões com os professores e ampliar as propostas feitas pelos professores, no dia a dia da sala de aula, com o objetivo de mostrar uma outra perspectiva a partir de algo inicialmente sem sentido, provando de forma prática como a escola poderia ser significativa e interessante.
Sai da escola pública com o forte desejo de fazer universidade. A batalha para passar no vestibular foi árdua e me permitiu estudar num cursinho comunitário e trabalhar numa fábrica para custear o estudo. Muito aprendi sobre humanidade e persistência nesse tempo, por meio das tantas nordestinas sem esperanças que conheci nas bancadas de trabalho.
 Finalmente, ingressei na academia, onde cursei Letras para poder, por meio do conhecimento em Língua e Literatura, plantar sementes de conhecimento capazes de mudar realidades, histórias e contextos. A vida acadêmica foi muito difícil e para conseguir me formar, exigiu um tanto de criatividade, astucia e um estilo de vida de luta e resistência. Fazer horas de caminhadas noturnas para driblar a falta de dinheiro para o transporte, a dieta “vegetariana” para dar conta dos poucos recursos, as leituras feitas pós aulas pela falta de copias dos materiais, a suposta iniciação cientifica para garantir uma bolsa de algo como R$ 162,00... Tantas oportunidades de aprender a lidar com as adversidades me fizeram conhecer uma possibilidade única de mudar a realidade, apesar de todos os percausos,  a Universidade aconteceu!
Minha trajetória educacional finalmente tomou outras proporções e um precioso tempo na especialização em Psicopedagogia. O que me abriu possibilidades reais de trabalho em contextos de pobreza e escassez, onde comecei a atuar intervindo na aprendizagem de educadores sociais em diferentes contextos. Minhas intervenções pareciam um pouco diferentes a primeira vista, porque misturava literatura, artes, conflitos problematizadores e desconstrução de conhecimentos, construção de identidade e espaços de estudo e aprendizagem. Tudo com a finalidade de potencializar e mobilizar o agente de transformação, que existia dentro das pessoas com quem tive a oportunidade de partilhar e construir conhecimentos, por meio de competências leitoras e habilidades de escrita, sempre considerando o contexto social ao qual estavam inseridos.
Um dos trabalhos realizados foi na ONG Operação Resgate - na comunidade do bairro conhecido como Mutirão, na cidade de Patos, sertão da Paraíba, Brasil - no ano de 2009. A intervenção consistiu em formar professores que seriam protagonistas na transformação social, por meio de uma educação bem fundamentada, fomentando a possibilidade de transformação da realidade de uma maioria não alfabetizada. O resultado do trabalho, em 6 meses, foi um grupo de professoras detentoras de um conhecimento capaz de transformar, algumas preciosas ferramentas para intervir na aprendizagem das crianças e adolescentes e 75% dos alunos no processo de alfabetização letrada, objetivo primário do trabalho, uma vez que as crianças e adolescentes do projeto não sabiam ler e escrever e as professoras não sabiam como intervir em tal realidade.
Algumas vivências de trabalhos já realizadas foram feitas em contextos adversos como a periferia do Sertão Paraibano; escolas indígenas do povo terena do Mato Grosso do Sul; casa abrigos, escolas públicas e atendimentos a alunos com deficiência e necessidades educativas especiais de São Paulo; e aquele que é o projeto que desejo continuar atuando, que é a implantação e serviço numa comunidade quéchua, que habita os assentamentos humanos de Leôncio Prado e Nova Generacion, na região serrana de Huánuco, Peru, America Latina.